Com seus mais de 5.500 anos de existência, Senet é um dos jogos mais curiosos de todos os tempos. Cultuado no egito antigo, Senet foi trazido ao mundo graças a descobertas da tumba de Tutankamon, que relevou o jogo ao mundo contemporâneo.
Jogado com um tabuleiro, dois conjuntos de 5 peças de movimentação para cada jogador e um dado egípcio de 4 pedaços, Senet teve a sua primeira aparição no livro egípcio dos mortos, no capítulo 17. Essa aparição revela um lado de Senet que na verdade nos ajuda a entender a natureza e ancestralidade de muitos jogos: Os mistérios e a magia.
Para entender essa relação existe um livro muito bom, ”Jogos dos Deuses”, de Nigel Pennick. Podemos ver no símbolo máximo dos jogos – os dados – a fusão mística que os jogos possuíam em culturas e civilizações da antiguidade. Isso se deve ao fato da palavra “dado” ser derivada do latim “dadus” , que significa “dado pelos deuses”. Além deste exemplo podemos ver que a origem de muitos jogos de cartas vem diretamente nas artes adivinhatórias do Tarot. O jogo de búzios é outro ancestral místico dos jogos.
Porém, voltando ao Senet, trata-se de um jogo de corrida aonde o jogador precisa deslocar suas peças rumo ao final. Existe um conjunto de regras e simbolismos, no entanto. As regras regulam como essa movimentação se dá, tanto no sentido de quando ela pode começar, a relação entre as peças dos jogadores e as casas com inscrições egípcias. Olhando sob esse prisma, talvez não tenha sido por coincidência que o filósofo holandês Johan Huizinga, em sua obra “Homo Ludens”, tenha cunhado o termo “círculo mágico”, para se referir a capacidade de transcendência que os jogos possuem.
Senet era encarado pelos egípcios como uma mística peregrinação e passagem da alma através do mundo dos mortos, uma luta contra o mal e um ritual da passagem do mundo material para o mundo espiritual. Acreditavam que ao morrer seriam desafiados pelo deus Rá, o deus sol, a jogar uma partida de Senet, tendo como prêmio de vitória o “paraíso”.
Estudar a mística dos jogos talvez nos ajude a compreender o porque de os jogos serem mágicos para muitos de nós. Os deuses podem ter mudado, mas a magia continua.
(fonte)
Fabrício Kolk trabalha com jogos educacionais, tentando modernizar e ludificar a educação. Criador do blog Ludus Lila, transita e pesquisa o universo do jogar desde os tabuleiros até os eletrônicos. Enxerga os jogos como um caminho para a transcendência. |
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