Artigo: Jogos de tabuleiro são para adultos

Por Gustavo Barreto

No Brasil a cultura de jogos de tabuleiro é paupérrima, o que infelizmente leva a alguns raciocínios equivocados.

Um destes conceitos equivocados bastante comum de se ouvir é que “jogos de tabuleiro são coisas de criança”.

E este raciocínio tem como origem os fabricantes de jogos: por razões comerciais, e para atender a legislação, os fabricantes são obrigados a colocar a idade mínima para os jogos, e não raro diminuem o máximo possível pensando que com isto vão aumentar as suas vendas - daí nascer esta associação imediata entre jogo e criança.

No entanto, dizer que um jogo pode ser jogado por uma criança a partir de 8 anos de idade, não significa dizer que este é um jogo para crianças.

O xadrez, por exemplo, é um jogo bastante complexo, e muitas crianças podem começar a aprendê-lo a partir dos 6 anos.

Seria apenas por este motivo o xadrez um “jogo para crianças”?

É claro que não: se verificarmos a complexidade das regras, o tempo de duração de cada partida, o nível de estratégia, tática, raciocínio espacial que o jogo exige para ser bem jogado, verificamos com tranquilidade que ele foi feito para ser apreciado por adultos, embora algumas crianças até possam jogá-lo, se conduzidas por adultos.

Se examinarmos ao longo da história da humanidade, praticamente todos os povos que já existiram desenvolveram os seus próprios jogos de tabuleiro, os quais eram voltados para adultos:

Só a título de exemplo: os japoneses, os chineses, os gregos, os romanos, os egípcios, os persas, os astecas, os maias, os incas, os vikings, os africanos, os babilônicos, os esquimós, os brasileiros, os franceses, os italianos, os alemães, os mongóis, (sem prejuízo de outros), todos, sem exceção tinham os seus próprios jogos de tabuleiro, os quais eram voltados principalmente para adultos, e tinham como função o entretenimento, tal qual como é ainda hoje.

Repare que não importa o grau de civilização, sofisticação da cultura destes povos, pois alguns sequer eram alfabetizados, ou a distância no tempo ou no espaço que separam estas culturas:  em todas elas encontramos jogos de tabuleiro, muitos dos quais chegaram até nós, e até hoje encantam pessoas no mundo todo.

Assim, quando afirmo que jogos de tabuleiro são para adultos, o faço diante da constatação de uma prova histórica de pelos menos 4.000 anos, período no qual foram produzidos milhares de jogos de tabuleiro voltados para adultos.

Não há porque se espantar: se for examinada toda a complexidade da mecânica de um jogo de tabuleiro, e o conjunto de raciocínios e habilidades que ele exige para ser desfrutado de forma adequada, (estratégia, tática, malícia, habilidade manual, cálculo, memória, etc), perceberemos que estes são ferramentas possuídas pelos adultos, embora as crianças possam acompanhá-las com menor desempenho.

No site boardgamegeek, podemos encontrar quase 50.0000 (cinqüenta mil jogos) de tabuleiro cadastrados por pessoas do mundo inteiro, e é evidente que este não possui todos os jogos do mundo.

Dentre todos estes jogos, é certo que alguns deles (uma minoria) foram produzidos para serem terem como público – alvo as crianças, até por razões comerciais, mas é certo que a grande massa de jogos foi feita para adultos se divertirem.

Desta forma, quando estiver diante de um jogo de tabuleiro, pode se divertir à beça e sem nenhum sentimento de culpa, pois esta forma de entretenimento inteligente foi desenvolvida para adultos como você.

Sobre Gustavo Barreto: Formado em Direito pela PUC SP, é especialista em Direto Empresarial, desde 2003. Como designer de jogos de tabuleiro desde 1989 e mestre de RPG desde 1993, abriu a sua própria empresa em 2010 para lançar alguns de seus melhores títulos de jogos de tabuleiro, porque não aguentava mais os seus amigos pedindo emprestado seus protótipos.