Por Paulo Santoro do blog Jogólatras
Dominant Species — criado por Chad Jenses, autor de wargames como Combat Commander: Europe — é um jogo de worker placement e controle de área que tem feito muito sucesso entre os fãs de jogos “pesados”. Já alcançou a destacadíssima posição de 20o lugar no BGG.
Resisti muito tempo a jogá-lo, com certos receios. O jogo é muito bom, mas meus receios se confirmaram.
1) Duração do jogo. Não tenho problemas com um jogo só por ele demorar muito. Este dura umas 3 horas. Civilization dura 4 ou mais, e eu não recuso nenhuma partida e ainda seria capaz de jogar outra vez em seguida. O problema é que um jogo deve ter “algo mais” para ter essa duração e entrar em minha coleção, porque as oportunidades para jogos demorados são limitadas. Dominant Species, mesmo sendo bem bolado e bem desenvolvido, não me traz nenhum algo mais.
2) Downtime. A partida teve 3 horas exatas, e foi possível se ausentar da mesa por uns 10 minutos de vez em quando. Em Civilization há downtime, mas existe uma diferença importante. Civilization é um jogo estratégico em que, apesar da enorme complexidade da situação do jogo, há mais estabilidade e mudanças mais graduais. É útil você aproveitar o tempo dos outros jogadores para pensar nas ações que vai fazer. Mais do que útil: é essencial. Dominant Species é um jogo tático em que as mudanças no cenário são abruptas e profundas. Não adianta você pensar durante o turno dos adversários, muita coisa vai mudar e você precisará recomeçar o raciocínio. Assim, a improdutividade do downtime torna-o ainda mais longo.
3) Manipulação. DS compartilha com Shogun uma crítica: são ambos jogos um tanto “trabalhosos”. Existe uma computação bem chatinha, e mesmo os que gostam do jogo aposto que vão adorar quando sair uma versão eletrônica que faça todos os cálculos. Para cada hexágono, é necessário comparar as dominâncias sempre que acontece alguma mudança (e, como disse, acontecem muitas mudanças o tempo todo). Os cones marcam com clareza quem está ganhando ali, mas não a pontuação dos envolvidos, e também não brotam sozinhos, os jogadores precisam fazer esse controle. Eu considero bastante incômodo.
4) Novidade. Não, um jogo não precisa ter mecânicas “originais” para ser bom. Mas isso pode ajudar muito para a sensação de querer conhecer e jogar de novo um lançamento. Em DS, a parte de worker placement funciona igual ao Caylus, e o controle de área é igual ao de El Grande. Há muitas semelhanças em detalhes com esses dois jogos. Uma coisa um pouquinho diferente é o controle de área “duplo”: dominância x cubinhos. Mas são apenas superposições, não há de fato uma dinâmica especial. A novidade em King of Siam, por exemplo, é que se trata de um controle de área em que os cubinhos não são “seus”. Você tem que tentar fazer uma cor “ganhar” e ao mesmo tempo tentar ser aquele que mais capturou daquela cor — uma dinâmica interessantíssima em que um objetivo prejudica o outro. No worker placement, um jogo que realmente conseguiu inovar e criar uma nova sensação é o Luna: os trabalhadores já estão alocados e são gastos com o uso, mas se reativam no final de cada turno. Seu objetivo é utilizar os recursos disponíveis para realocá-los e reaproveitá-los na hora certa. Essas alterações numa mecânica já existente dão uma nova sensação ao jogador.
Enfim: Dominant Species é um bom jogo para quem gosta de caos tático, mas, pelos motivos explicados acima, não é para mim.
(fonte)
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